Ricardo Darín diz que não se julga merecedor de homenagens
Um dos grandes nomes do cinema argentino atual, o ator Ricardo Darín, protagonista de filmes como ‘O Segredo dos Seus Olhos’ e ‘O Filho da Noiva’, veio ao Brasil prestigiar a homenagem que recebe da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos da América do Sul, que começa nesta sexta-feira (19) em São Paulo. O ator conversou com os jornalistas e disse que não se julga merecedor de homenagens: “Aceitei esta devido à importância do festival, de se discutir o tema dos direitos humanos, mas não me julgo muito merecedor de homenagens.”
Realizado em 20 capitais, a Mostra segue até dia 19 de dezembro, passando cerca de uma semana em cada cidade. O mais recente filme protagonizado por Darín, ‘Abutres’, é um dos destaques da Mostra. Dirigido por Pablo Trapero (‘Leonera’), o filme é a aposta da Argentina em uma possível disputa por mais um Oscar. Darín contou que trabalhar com Trapero foi uma experiência nova: “é bom conhecer novos pontos de vista na direção, ele é alguém que se envolve com o que faz, não fica só no escritório.”
Darín revelou que este novo filme conta a história de amor entre duas pessoas que se envolvem em um ambiente hostil: “Foi isso o que me atraiu no roteiro”. Ele disse também que gosta de filmar histórias envolventes: “Tenho bastante critério para escolher meus personagens, gosto de histórias que me envolvem. [Protagonizar] Boas histórias foi abrindo caminho para mim [aos olhos do público e da crítica internacionais]. Me comove que meus filmes tenham tido boa aceitação.”
Sempre simpático, Darín abriu um sorriso ao falar do cinema brasileiro. Ele comentou que está envolvido em um projeto com o diretor Walter Salles – os dois vão filmar ‘Terra’, um road movie que terá Ricardo Darín e Gael Garcia Bernal no elenco. Darín também se disse fã de ‘Cidade de Deus’ e de ‘Pixote – A Lei do mais fraco’.
Ele também discordou de sua fama de galã: “Com esse nariz e esses dentes, você não faria essa pergunta se eu não tivesse esses olhos”, disse à jornalista que o comparou com o astro Humphrey Bogart por sua “beleza rude”.
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Matéria escrita e publicada ontem no Portal da RedeTV (a foto eu tirei na pré-estreia do filme, à noite).
Não se engane pela alegre melodia
Posted on 10/novembro/2008 by Cinéfilos
Uma divertida animação e uma música conhecida do público abrem Leonera, novo filme de Pablo Trapero (Família Rodante): a bola do menino na casa na rua na cidade que por fim termina no universo que contém todo o cenário nos remonta de volta aos tempos de infância. A brincadeira representada na animação e as vozes das crianças abrem para um cenário triste que nos chama de volta à realidade: Julia (Martina Gusman) acorda assustada e ensangüentada em seu quarto com o cadáver de seu namorado e o amante deste, Ramiro (Rodrigo Santoro, em breve atuação), desacordado.
Grávida, a moça é levada para a ala especial de uma penitenciária feminina onde terá direito a permanecer com seu filho até ele completar quatro anos. Neste ambiente, Trapero nos mostra as mazelas da sociedade argentina (e global como um todo, pensando em um plano maior): temas como o abandono a que as moças e seus filhos são submetidos, o descaso por parte de familiares e do Estado, as mentiras e armações dos advogados e julgamentos e as relações interpessoais são discutidos pelo filme sem cair nas afetações e desnecessários clichês que muitos dramas do gênero carregam consigo.
O filme não deixa claro quem foi o verdadeiro responsável pelo assassinato, se Julia ou Ramiro, ele nos fornece as versões de ambos e nos deixa escolher em qual lado acreditar. Tendemos a sentir compaixão pela mãe que, no começo do filme, se vê sozinha e com o filho como única companhia. Atordoada e confusa na nova vida – encarar o desafio de ser mãe e cuidar de um bebê na prisão – Julia se abriga na amizade (e no afeto) com sua vizinha de cela para manter-se saudável nos momentos em que se abandonada e traída até pela própria mãe.
Leonera, em espanhol, é o lugar onde se mantém os leões. Neste caso, as leoas são mantidas em uma espécie de creche que mistura a alegria das crianças que brincam nas grades acinzentadas da melancólica prisão. Trapero soube mesclar neste filme as criticas à sociedade e a beleza nos gestos de verdadeira amizade e amor maternal. As músicas, muitas delas com temas infantis, ajudam a completar o quadro deste retrato social que Leonera desenha em suavidade e delicadeza.
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Republicado neste blog em 14/06/2011 – atribui uma data aleatória apenas para manter o texto aqui como registro, já que este blog ainda não existia na data de publicação do texto acima. O site Cinéfilos, projeto da Jornalismo Júnior, empresa júnior de jornalismo da ECA-USP, agora está hospedado no http://cinefilos.jornalismojunior.com.br/.