Futuro do livro em jogo?

Um dos grandes destaques da Bienal do Livro de São Paulo este ano são os livros digitais. Por todo lado, estandes anunciam novidades tecnológicas que vão de livros interativos para crianças a uma versão digital da Bíblia, passando pelos ebook que são apenas livros em formato eletrônico.

Karine Pansa, diretora da Câmara Brasileira do Livro (CBL), organização responsável pela realização da Bienal do Livro de São Paulo, acredita que o livro digital é uma realidade: “Ele existe, não vai desaparecer e nem vai substituir o livro em formato tradicional, ou pelo menos não a curto prazo.” Segundo ela, a opinião da CBL e de muitos especialistas no assunto é de que os dois formatos ainda devem coexistir por algum tempo. “É difícil fazer previsões para o futuro hoje em dia, as coisas mudam muito rápido”, completou Pansa.

Em abril deste ano, foi lançado no Brasil o livro ‘_não contem com o fim do livro’ (assim mesmo, em minúscula e com um underline), um diálogo de alto nível entre os especialistas e colecionadores de raridades do mercado editorial Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, mediada pelo jornalista Jean-Philippe de Tonnac. Em tom de conversa, os estudiosos, com muitos anos de leituras nas costas (Eco está com 78 anos e Carrière tem 79), acreditam que nada supera a força dos livros de papel, que não se perdem em meio aos avanços tecnológicos.

“Ainda somos capazes de ler um texto impresso há cinco séculos. Mas somos incapazes de ler , não podemos mais ver, um cassete eletrônico ou um CD-ROM com apenas poucos anos de idade. A menos que guardemos nossos velhos computadores em nossos porões.”, argumenta Carrière [que de fato guarda seus velhos computadores no porão de sua casa] no capítulo do livro intitulado “Nada mais efêmero do que os suportes duráveis”. Pansa discorda de tal argumento: “Acredito que hoje em dia as pessoas já estão preocupadas em adaptar os formatos anteriores para os novos”, disse, comentando o medo que Eco e Carrière têm de que todo o conhecimento da humanidade, geralmente armazenado em livros impressos, se perca.

Durante a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) deste ano, o historiador Robert Darnton, responsável pela digitalização do acervo da biblioteca de Harvard, disse que prevê um futuro empolgante para a edição dos livros, que devem se renovar com a possibilidade oferecida pelo formato digital de se tornarem interatvos e mutimídia. Com isso, o número de leitores pode aumentar, uma vez que as crianças seriam atraídas por vídeos e links para a leitura dos textos. Karine Pansa também vê o futuro com bons olhos: “Se os livros em formato digital forem mais atrentes que o papel, a quantidade de leitores deve aumentar. Mas se for apenas o texto digitalizado, não muda nada.”

A discussão circula em torno desta atualização e de formas inovadoras para atrair e formar leitores na sociedade da imagem. É preciso, então, estimular o amor pelos livros (já existente naqueles que temem por seu fim). Para Pansa, a melhor forma de atrair novos leitores é oferecendo conteúdos que lhes falem diretamente: “As crianças de hoje já nasceram no mundo digital. A vontade de ler vai apenas passar para o formato digital. O mundo está mais moderno, mais adaptável.”

Matéria escrita e publicada sexta-feira (20) no Portal da RedeTV.

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