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Um Conto Chinês

“Um Conto Chinês” (Un Cuento Chino), dirigido por Sebastián Borensztein, é engraçado, com pitadas de drama e ótimas atuações. Darín nunca decepciona. O olhar de Ignacio Huang, o ator que interpreta o rapaz chinês, é muito forte e seu personagem cativa. E por mais tristes que sejam os personagens, você sai do cinema leve.

O Brasil está com tudo

Em menos de 15 dias, Ricardo Darín e Francis Ford Coppola passaram pelo Brasil. Os dois estiveram em São Paulo: Darín foi homenageado pela 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos da América do Sul e participou da pré-estreia de seu novo filme como protagonista, ‘Abutres‘, que estreou nesta sexta (03) no circuito comercial. Coppola também apresentou seu trabalho mais recente por aqui, o diretor veio exclusivamente para divulgar ‘Tetro‘.

Na última quarta-feira (01), Coppola conversou com a imprensa à tarde e participou da pré-estreia de ‘Tetro’ de noite, para a alegria dos paparazzi, que não deixaram o diretor em paz, afastando até os fãs que desejavam tietar. Era igualmente incomodado pelos flashes quando iniciou a coletiva de imprensa. Felizmente, os jornalistas presentes pareciam agradar com seus questionamentos. Em sua maioria, com um ar de idolatria, muitos de nós pensando que não sabiam sequer por onde começar suas perguntas ao diretor. E, na dúvida, optavam pelo silêncio.

As perguntas foram poucas, mas Coppola falou como um verdadeiro mestre, ensinando lições de cinema, ainda que breve, aos jovens ali presente. Em sua fala, sempre humilde, o cineasta falou de sua paixão pela literatura latino-americana, que o levou a escolher Buenos Aires como cenário. Revelou também que quis fazer um filme “como se fosse um estudante” e disse que agora só quer fazer filmes “para aprender, não pelo dinheiro ou pelo sucesso.” Ele já não precisa.

E não somos só nós que sabemos disso, ele mesmo fala que já não se importa mais com a crítica ou com o sucesso de seus filmes. Está velho demais para isso, parece dizer, com sua barba branca e os cabelos levemente desgrenhados, enquanto nós ficamos pensando “o senhor já está famoso demais para isso”. Senhor, sim, porque é até difícil imaginar tratar o poderoso chefão em pessoa de outra forma.

Apesar disso, e apesar também de não disfarçar o mal-estar que os fotógrafos lhe causam, Coppola é simpático com os repórteres. Na coletiva, não exitou em desautorizar a assessora de imprensa, que queria encerrar a festa dos jornalistas. “Mas já? Eu mal comecei!”, brincou Coppola, perguntando quem ainda tinha perguntas a lhe fazer. Eram quatro e ele se propos a responder todas elas. Na pré-estreia, desta vez assediado por repórteres de televisão, também foi simpático em seus comentários, elogiando o cineasta Walter Salles e o cinema brasileiro. Coppola será o produtor de ‘On the Road‘, road movie que o Salles está filmando com Kristen Stewart.

Já Ricardo Darín, possivelmente o maior ator argentino da atualidade, foi tão protegido por sua assessoria de imprensa que os fotógrafos mal tiveram tempo de assediá-lo. (Mas quando nos deixaram fotografá-lo, ele foi simpático e receptivo, um gentleman). No último dia 19, mesmo dia da abertura da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos da América do Sul em São Paulo, o ator participou de uma coletiva de imprensa na Cinemateca Brasileira. Modesto, ele disse que não se julga merecedor de homenagens e discordou do repórter que lhe perguntou se ele era o ator mais famoso de seu país.

Depois do sucesso de ‘O Segredo dos Seus Olhos‘, que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009, Darín volta às telas com ‘Abutres’, de Pablo Trapero (‘Leonera‘), em que interpreta um advogado que perdeu sua licença e foi trabalhar em uma Fundação que explora os acidentados em vias públicas, ajudando-os a obterem dinheiro de suas seguradoras de vida, mas retendo boa parte da indenização. São os apelidados “abutres”.

Em um ambiente hostil, como o próprio ator define (o filme se passa na região periférica de Buenos Aires), seu personagem Sosa conhece Luján (Martina Gusmán), uma paramédica que atende os acidentados. O amor dos dois motiva o protagonista a querer sair de seu emprego, mas, em um negócio escuso, nada é tão simples.

O filme é triste, com uma violência seca. Retratando uma situação difícil sem meias palavras e mostrando até que ponto as pessoas chegam por dinheiro. ‘Abutres’ guarda alguma semelhança com ‘Tetro’ em seus retratos das relações humanas. Ambos os filmes são memoráveis, bem como a passagem de seus realizadores pelo Brasil.

Texto escrito e publicado hoje no Vereda Estreita.

Ricardo Darín diz que não se julga merecedor de homenagens

Um dos grandes nomes do cinema argentino atual, o ator Ricardo Darín, protagonista de filmes como ‘O Segredo dos Seus Olhos’ e ‘O Filho da Noiva’, veio ao Brasil prestigiar a homenagem que recebe da 5ª Mostra Cinema e Direitos Humanos da América do Sul, que começa nesta sexta-feira (19) em São Paulo. O ator conversou com os jornalistas e disse que não se julga merecedor de homenagens: “Aceitei esta devido à importância do festival, de se discutir o tema dos direitos humanos, mas não me julgo muito merecedor de homenagens.”

Realizado em 20 capitais, a Mostra segue até dia 19 de dezembro, passando cerca de uma semana em cada cidade. O mais recente filme protagonizado por Darín, ‘Abutres’, é um dos destaques da Mostra. Dirigido por Pablo Trapero (‘Leonera’), o filme é a aposta da Argentina em uma possível disputa por mais um Oscar. Darín contou que trabalhar com Trapero foi uma experiência nova: “é bom conhecer novos pontos de vista na direção, ele é alguém que se envolve com o que faz, não fica só no escritório.”

Darín revelou que este novo filme conta a história de amor entre duas pessoas que se envolvem em um ambiente hostil: “Foi isso o que me atraiu no roteiro”. Ele disse também que gosta de filmar histórias envolventes: “Tenho bastante critério para escolher meus personagens, gosto de histórias que me envolvem. [Protagonizar] Boas histórias foi abrindo caminho para mim [aos olhos do público e da crítica internacionais]. Me comove que meus filmes tenham tido boa aceitação.”

Sempre simpático, Darín abriu um sorriso ao falar do cinema brasileiro. Ele comentou que está envolvido em um projeto com o diretor Walter Salles – os dois vão filmar ‘Terra’, um road movie que terá Ricardo Darín e Gael Garcia Bernal no elenco. Darín também se disse fã de ‘Cidade de Deus’ e de ‘Pixote – A Lei do mais fraco’.

Ele também discordou de sua fama de galã: “Com esse nariz e esses dentes, você não faria essa pergunta se eu não tivesse esses olhos”, disse à jornalista que o comparou com o astro Humphrey Bogart por sua “beleza rude”.

Matéria escrita e publicada ontem no Portal da RedeTV (a foto eu tirei na pré-estreia do filme, à noite).

A guerra dos sexos em seu lado mais cruel

A começar pelo título, XXY já é um filme intrigante. O enredo da menina hermafrodita que já não sabe mais se quer mesmo ser mulher levou o Grande Prêmio da Crítica do Festival de Cannes 2007, o Goya de melhor filme estrangeiro de língua espanhola no mesmo ano e mais outros nove prêmios em festivais internacionais.

O filme é baseado no conto Cinismo, do escritor argentino Sergio Bizzio, marido da diretora Lucia Puenzo, que adaptou a história e colocou-a brilhantemente nas telas dos cinemas. O elenco selecionado garante ótimos momentos a este filme, ainda que a discussão em torno do dilema da personagem principal seja rasa.

Alex (Inês Efron) nasceu hermafrodita e seus pais acharam melhor não corrigir a ambigüidade de sexos ainda no hospital. Para inibir o crescimento de barba e manter sua aparência feminina, Alex precisa tomar corticóides diariamente. Aos 15 anos, porém, o lado de sua sexualidade masculina parece atraí-la mais do que o feminino, e Alex para de tomar seus remédios.

Seus pais temem os efeitos que a falta dos hormônios teriam sobre o corpo de sua filha: ela perderia sua aparência feminina e começaria a se masculinizar, até tornar-se verdadeiramente homem, necessitando para isso de uma cirurgia que mudaria todas as perspectivas construídas. O ápice deste dilema se revela no momento em que o pai da menina – o biólogo marinho Kraken, interpretado pelo fantástico Ricardo Darín – procura um homem que nasceu hermafrodita e foi menina até os 17 anos de idade.

No auge de sua adolescência, Alex tem suas dúvidas quanto à sexualidade intensificadas por sua condição e pelos problemas que isso já lhe trouxe: a família mudou-se de Buenos Aires para uma pequena cidade litorânea no Uruguai, seu ex-melhor amigo cortou relações com ela ao descobrir seu segredo e as pessoas que sabem sua história olham-na de forma diferente e preconceituosa.

A vinda de um casal de amigo para sua casa e o envolvimento posterior de Alex com Álvaro (Martin Piroyanski), o filho rejeitado do casal, faz com a menina perceba suas dúvidas sexuais de forma clara. O pai de Álvaro é um cirurgião plástico que rejeita o filho por suas opções sexuais ainda não definidas. Neste ponto se percebe que não apenas a adolescente hermafrodita tem contradições quanto a sua opção sexual e que as escolhas desta fase são complicadas para qualquer adolescente.

O filme mostra a importância do apoio familiar nas decisões de qualquer jovem. O debate sobre o “problema” de Alex não é tão desenvolvido como poderia, mas o enredo envolvente mantém o ritmo da narrativa, que nos revela o quão cruel pode ser o desprezo humano pelo diferente.

XXY (Idem, Argentina/Espanha, 2007)
Dirigido por Lucia Puenzo
Com: Inês Efron, Ricardo Darín, Valeria Bertuccelli, Germán Palácios, Carolina Pelleritti, Martín Piroyansky, César Troncoso

Texto escrito no começo de abril de 2008 como teste para entrar para o Cinéfilos, projeto da Jornalismo Júnior, empresa júnior de jornalismo da ECA-USP. Atribui uma data aleatória para mantê-lo como registro.